Outra coisa que é bem curiosa (mais uma para a seleção "coisas pitorescas") é que passamos por umas 3 ou 4 festas que são feitas no meio da rua, como um almoço de casamento. Eles colocar umas grades, fecham metade da rua e enfeitam com uma faixas e tecidos e pronto!! Está feito um espaço p o buffet!! O engraçado era que em uma dessas (essa não deu p tirar foto) os convidados tinham que atravessar a rua para ir de um salão a outro!
Nós à bordo do tuk-tuk, noodles autêntico e delicioso, a festa no meio da rua e o Luke, nosso motorista.
Após o café à cambodjana, fomos a um lugar chamado Killing Fields (ou Campos de Matança) de Choeung Ek e depois ao Museu Toul Sleng. Estes dois lugares são o testemunho das feridas deixadas pelo governo de Pol Pot, líder do Khmer Vermelho (Khmer Rouge), que instaurou a República Democrática de Kampuchea, entre 1975 e 1979. O domínio de Pol Pot nesse curto período ajuda a compreender o país hoje: durante seu governo, milhares de pessoas (entre homens, mulheres e crianças) foram assassinadas (no Lonely Planet se menciona mais de 2 milhões, e no museu, quase 3 milhões). O ideal do Khmer Vermelho era promover uma sociedade democrática agrária, e a partir desse "ideal" se estabeleceu o "Ano Zero". A partir de 1975, absolutamente TUDO que se referia a qualquer herança cultural khmer (khmer se refere ao povo cambodjano, a sua origem) e ao mundo capitalista deveria ser banido. Para isso Pol Pot promoveu um genocídio que começou com todas pessoas com algum nível de instrução (jornalistas, artistas, médicos, professores, etc), a moeda foi banida, várias edificações foram demolidas (universidades, bancos, teatros, templos, etc), religiões fora banidas. O país experimentou um retrocesso a uma sociedade agrária primitiva, onde o que imperava era o trabalho forçado nos campos.
Creio que a sensação dessa visita seja equivalente a uma visita ao campo de concentração nazista de Auschwitz. Um dia pesado, onde a gente tem uma pequena noção do que essa gente passou. O que mais impressiona é que isso aconteceu há menos de 40 anos atrás. Famílias inteiras foram extintas, e hoje a relação de parentesco é algo que se valoriza muito no país, pois depois da presença do Khmer Vermelho as pessoas tiveram que reunir os laços que restaram, e isso inclui primos de segundo grau, por exemplo.
Killing Fields de Choeung Ek
Começamos a visita pelo Killing Fields, mas creio q a sequência lógica era começar pelo museu Toul Sleng. Os Killing Fields, ou Campos de Matança, eram áreas reservadas com o único propósito de exterminar as pessoas julgadas pelo regime, o que incluiu homens, mulheres e crianças. Houveram mais de 300 durante o regime e o de Choeung Ek é o mais conhecido. Foi erguido num antigo cemitério chinês, a cerca de 14km do centro de Phnom Pehn. Logo na entrada, vimos o enorme relicário, construído em estilo Khmer, que presta homenagem às pessoas mortas durante o regime. Esta torre, com uma estrutura em vidro e concreto abriga os restos de cerca de 9000 pessoas, entre crânios e outras partes. Uma cena realmente impressionante, que nos faz perguntar como isso foi possível, como Pol Pot conseguiu persuadir seus subordinados a cometer crimes tão assombrosos. No entorno, as covas coletivas onde foram encontradas cerca de 17mil ossadas após a exumação feita em 1980. Mulheres e crianças foram assassinadas com crueldade inimaginável, esse pessoal do Khmer Vermelho realmente estava impregnado de uma motivação insana, bárbara. Depois vimos um filme documentário que nos dava a dimensão do que acontecia lá dentro.
Foi um passeio pesado, a gente vê reações diversas nas pessoas que estão lá visitando, mas é fundamental para compreender um pouco o país e suas pessoas.
O relicário com os crânios de cerca de 9000 pessoas, e sua vista externa. Abaixo, a vista geral do entorno com as covas coletivas e por último uma cova onde foram encontradas somente crianças.
Museu Toul Sleng (conhecido como S-21)
O museu Toul Sleng se localiza numa escola que foi ocupada pelo Khmer Vermelho para abrigar o centro de detenção e tortura. É estranho ver um prédio de uma escola, onde antes crianças e jovens corriam pelos pátios e salas de aula, se transformar num espaço de terror. As salas foram adaptadas para receber todos "acusados", "suspeitos" e "traidores do regime", o que poderia ser qualquer um. As pessoas eram trazidas, torturadas e depois enviadas para serem assassinadas nos Killing Fields. Nem tiramos muitas fotos aqui, o lugar dá arrepios, tem um clima realmente pesado. Nos painéis vimos fotos de um ator e uma cantora, famosos na época, que foram também assassinados.
Vista geral do prédio, detalhe da cerca para evitar suicídios, expo de fotos sobre os campos e a exumação de 1980, vista de um dos quartos.
Um aspecto que ainda nos choca é saber, através dos guias locais e também de depoimentos (no YouTube tem um episódio do No Reservations sobre o Cambodja, de 2010), que ainda há membros do Khmer Vermelho ocupando posições privilegiadas na sociedade cambodjana. Corrupção e impunidade, será que isso lembra de algum outro lugar?
A presença de turistas aqui em Phnom Pehn é algo impressionante, não esperávamos ver tantos aqui, de várias nacionalidades, europeus variados, americanos, chineses, thailandeses, mas nenhum brasileiro por enqto. Por um lado, é muito importante para o país se tornar um destino popular, pois sua história recente demanda uma entrada de dinheiro, trazendo recursos que ajudem na sua reconstrução. Já vimos algumas universidades pelas ruas, prédios comerciais, o turismo é crescente, Angkor Wat (onde iremos depois de amanhã) é um orgulho nacional. O país parece se reerguer após esse período de retrocesso, e isso inspira muita simpatia em todos que vêm visitá-lo.
Apesar dessa história recente tão pesada e cheia de feridas profundas, só tivemos experiências positivas com as pessoas que encontramos aqui em Phnom Pehn. Desde o tiozinho que ajudou a localizar a mala da imigração, os 2 motoristas de tuk-tuk, os vários tuk-tuk´s que nos abordavam nas ruas, as senhoras do mercado onde tentavamos perguntar algo sobre a fruta e o prato tal, o carinha do hotel que vive conversando sobre assuntos diversos com a gente, todas essas pessoas têm uma simpatia e abertura que realmente impressionam, chegam com um sorriso em que não sentimos traços de malandragem. Eles são em sua maioria budistas, o que talvez justifique essa forma de lidar e encarar a vida, apesar desses traumas tão terríveis por que passaram.
Enfim, Phnom Pehn nos cativou!
Abs a todos!!
Há um tempo atrás eu li que frequentemente os familiares dos mortos e desaparecidos vão até o Museu Toul Sleng (S-21) prestar homenagem a eles através daquelas fotos de identificação tiradas pelos fotógrafos do regime e que hoje ficam expostas. Achei muito triste!
ResponderExcluirEssa área das fotos é bem triste mesmo Shi. O que achei curioso era q algumas pessoas estavam sorrindo, talvez ainda não tinham consciência do que ia lhes acontecer. Bj!
ResponderExcluirMarcio e Beth,
ResponderExcluirPara marinheiros de 1ª viagem, o blogger está excelente,vocês estão caprichando nas riquezas de detalhes.
Parabéns.
Abraços.
Ge e Paulo,
ResponderExcluirLegal que vcs estão acompanhando... Aqui realmente é diferente de tudo que já vimos mesmo... por isso dos detalhes, rsrs
Abs bem forte!
Beth e Marcio
Nossa, que loucura!!!
ResponderExcluirEstou adorando a viagem de vocês e, sinceramente, aprendendo um pouco de história e geografia! rsrs
Impressionante esses Campos de Matança, hein! Daqui senti o peso do lugar... fiquei imaginando o que vocês sentiram!
Mas, como sempre digo, tudo vale a pena, não?!?!?! Cada viagem, uma experiência e milhares de conhecimentos!
E, para finalizar, vocês serem bem tratados pelas pessoas daí, nada mais é do que a reação da ação - vocês são simpáticos e felizes, atraem pessoas do mesmo perfil!
Beijos!!!
Oi Eiko!!
ResponderExcluirPois eh, nós tb estamos aprendendo a cada dia...
Tem um andar neste colégio que não tivemos nem coragem de tirar fotos de tão deprimente que era, dava arrepios..
Como vc disse, td vale a pena e como vcs, que gostam de viajar, acumulamos experiências de todas as formas... Valeu!!
bjs!!!!!